Toxic Trace
Kreator – Album:
Terribel Certainty (1987)
Pesticide in torrents,
how fast it flows
Total pollution
the earth can't stand much longer
Chemical
industry brings new diseases
The fear of
self-destruction is growing stronger
Nuclear waste in
an uncontrolled deluge
Reduces the
earth to an airless planet
Reformation lies
far away
Now is your only
chance to save it
Contamination in
every place
Condemn the
human race
Everything will
decay
Broken down by
toxic trace
New plagues have
come and soon there'll be more
Apocalypse not
for the first time
Suppression is
alive and that's for sure
Everyone will be
annihilated
Enforcement of
the last eclipse
Can't ignore
predictions from the past
Ignore the
warnings of ancient Prophets
Every minute of
your life could be your last
Contamination in
every place
Condemn the
human race
Everything will
decay
Broken down by
toxic trace
Metamorphoses of
the earth to a lifeless desert
Voracity for
richness, ruin of Mankind
Craving more and
more, to the world's Requiem
This is the
earth's last century
Now depravation
from things that count,
to make an
easier life for me
Total confusions
for the non-believers
who ignore the
writings on the wall
Times of
suffering for everyone,
no-one can hide
from reality
Social injustice
will be no more,
without
exception, devastate all
Times have changed
from the past to now
The earth is
mankind's subject
Perfect creation
stands over all
Experimenting
with lethal objects
Domination,
submission, demand for more
De-humanizes the
brains of the rulers
What gives them
the right to menace us all
This
time will come but then it will be too late
Rastro Tóxico (tradução)
Pesticida em correntes, como flui
rápido
Poluição total, a Terra não suporta
por muito mais tempo
A indústria química traz novas
doenças
O medo de autodestruição está se
tornando mais forte
Lixo nuclear numa avalanche
incontrolável
Reduz a Terra a um planeta sem ar
A reforma se mantém distante
Agora é a nossa única chance para
salvá-la
Contaminação em todo lugar
Condena a raça humana
Tudo irá decair
Desmoronado pelo rastro tóxico
Novas pragas vieram e logo haverá
mais
Apocalipse não é pela primeira vez
Supressão está viva e isto é certo
Todos serão aniquilados
Imposição do último eclipse
Não se pode ignorar as predições do
passado
Ignorar os avisos de profetas anciãos
Cada minuto de sua vida pode ser o
seu último
Contaminação em todo lugar
Condena a raça humana
Tudo irá decair
Desmoronado pelo rastro tóxico
Metamorfose da Terra em um deserto
sem vida
Voracidade por riqueza, ruína da
humanidade
Desejando mais e mais, até o Réquiem
do mundo
Este é o último século da Terra
Agora, a privação das coisas que
proporcionam
uma vida fácil para mim
Confusão total para os que não
acreditam
E que ignoram as escritas na parede
Tempos de sofrimento para todos
Ninguém pode se esconder da realidade
Injustiça social não mais existirá
Sem exceção, devasta a todos
Os tempos mudaram do passado para
agora
A Terra é assunto da humanidade
A criação perfeita se mantém acima de
todos
Experimentos com objetos letais
Dominação, submissão, demanda por
mais
Desumaniza o cérebro dos governantes
O que os dá o direito de ameaçar a
todos nós?
Esse tempo virá mas aí será tarde
demais
________________________________________
Análise:
Dos anos 80 para os anos 90 do
século XX aumentou enormemente a distância entre ricos e pobres, e a exploração
desenfreada dos recursos naturais começou a chamar a atenção de todos para um
futuro apocalíptico.
As preocupações com o meio ambiente são marcantes na discografia do Kreator, pois vivendo na cidade industrial Essen (decadente e suja, num dos maiores pólos industriais da Alemanha), suas letras abordam o que se enxerga através da janela das casas. Além do fato de seu país ter arcado com um grande custo para restaurar o meio ambiente devastado da RDA após a reunificação (MONIZ BANDEIRA, 2009. p 190).
“Toxic Trace”, do álbum “Terrible Certainty”,
é um grito para que as pessoas prestem atenção na degradação do meio ambiente,
principalmente pelas grandes fábricas.
Nas
primeiras linhas o mote geral da canção já fica bem claro: "Pesticide in torrents, how fast it flows /
Total pollution the earth can't stand much longer". O problema dos
dejetos industriais e residenciais tornam-se um grande martírio para as
populações dos grandes centros urbanos, e a destruição dos recursos naturais,
como os rios de água potável, entram na pauta de discussões acadêmicas,
políticas e cotidianas.
A canção
segue “The fear of self-destruction is
growing stronger / Nuclear waste in an uncontrolled deluge / Reduces the earth
to an airless planet”, onde há citação à devastação nuclear e à
autodestruição da humanidade como conseqüências drásticas do modo de produção
industrial a que estamos submetidos. Haja vista que ainda no fim dos anos 80 do
século XX a energia nuclear era utilizada amplamente em vários países do mundo,
mas tinha o problema dos resíduos tóxicos que não recebiam o destino correto.
(o Kreator voltará a esse tema com mais ênfase no álbum posterior)
Mantidas as
taxas de crescimento econômico/industrial que impulsionaram o mundo após a
Segunda Guerra Mundial, o planeta não suportaria as conseqüências catastróficas
ao meio ambientes que tal “crescimento” iria impor. (HOBSBAWN, 1995, p.547). E
sob essa ótica o Kreator conduz o refrão da música: “Contamination in every place / Condemn the human race / Everything will
decay / Broken down by toxic trace”.
A questão
do “rastro tóxico” é muito emblemática, pois é uma figura de linguagem que nos
remete às grandes chaminés expelindo aquela fumaça negra. Ou talvez, dejetos
jorrando através de um cano diretamente dentro de um rio. São imagens
rapidamente associadas à fase do Capitalismo Industrial, e tornaram-se a imagem
da degradação da natureza. O Vale do Ruhr, onde está a cidade de Essen, é um
desses distritos “clássicos” do Capitalismo Industrial, com suas indústrias de
carvão e aço, e a fuligem compõe a paisagem local.
A partir da
segunda estrofe a letra assume mais um componente: a ideia de que o que houve
no passado voltará a acontecer. “New
plagues have come and soon there'll be more / Apocalypse not for the first time”,
mostram uma visão de história cíclica (típica de civilizações politeístas, como
Romanos, Maias, Astecas, Hindus, Xavantes, etc).
Existe uma
correlação entre a degradação da natureza e a incapacidade do homem aprender
com os erros de civilizações passadas, descritas no trecho “Enforcement of the last eclipse / Can't
ignore predictions from the past / Ignore the warnings of ancient Prophets /
Every minute of your life could be your last”. Sem citar literalmente
nenhum povo em especial, aborda uma teoria que pode explicar, por exemplo, o
declínio de civilizações como os Rapanui (na Ilha de Páscoa, no Chile) ou dos
próprios Maias, que esgotaram seus recursos naturais e tornaram-se vítimas do
seu próprio modo de vida. Uma outra leitura possível se baseia exatamente na
ideia de “ciclos”, onde essas antigas civilizações faziam previsões de
apocalipses antes de recomeçar um novo ciclo.
Quando na
canção diz que não se pode ignorar as previsões feitas no passado, não há como
não fazer uma analogia às “profecias” maias sobre o fim do mundo, com
catástrofes climáticas que devastarão a humanidade. Mas entra um elemento mais
humano do que sobrenatural, onde o Kreator trata que o próprio homem tem
causado esses desastres quando degrada o seu meio natural.
O bridge[1]
cristaliza o conceito nos versos do “Metamorphoses
of the earth to a lifeless desert / Voracity for richness, ruin of Mankind”,
falando que a sanha dos homens por obter mais lucro não leva em consideração a
sua própria preservação.
O andamento
da música muda, e o eu poético já fala de um mundo devastado, onde a tecnologia
não existe mais, nem as coisas que a produção industrial cria para dar conforto
para a sociedade: “Now depravation from
things that count,to make an easier life for me.”
A estrofe
segue falando sobre as pessoas que não acreditavam que seria possível a
destruição do estilo de vida industrial: “Total
confusions for the non-believers / who ignore the writings on the wall”.
Essa passagem, particularmente, tem um sentido mais espiritual, mas se
observarmos mais atentamente, podemos entender os descrentes são os entusiastas
do progresso a qualquer custo, e as escritas nas paredes podem ser as pichações
que se multiplicam pelo mundo pelos movimentos ambientalistas.
O colapso
da humanidade vai terminar com as lutas entre as classes, pois todos vão
perecer. Essa visão de destruição total de todos os seres humanos é uma das
marcas do Kreator, e está presente na canção nos versos “Social injustice will be no more, without exception, devastate all”
A última
estrofe fecha a canção de maneira intensa, crítica e tremendamente raivosa.
Fala sobre “experimentos com objetos letais” e provavelmente estão falando
sobre energia nuclear e combustíveis fosseis, onde a “demanda por mais” força
os humanos a se destruírem. E como não poderia faltar, há uma crítica
contundente aos governos, que não pensam em nada além dos lucros e dos
interesses das grandes corporações, sem pensar na preservação da humanidade e
dos recursos naturais.
A música
está dividida em três partes bem distintas, sob o ponto de vista melódico. A
introdução é cadenciada, ditado sob o ritmo do riff marcante das guitarras. Há a quebra com uma pausa curta, e
inicia a segunda parte com um ritmo muito mais acelerado, com o início da parte
cantada, voltando para a cadência da introdução no momento do bridge (2:02” até 3”) quando há uma nova quebra na
melodia para cantar a 3 estrofe (3”
até 3:59”) voltando a música retornando à segunda parte melódica e finalizando
novamente com a melodia da terceira parte.
As
guitarras são a alma da canção, conduzindo as ações dentro da melodia,
cadenciando e acelerando. A bateria acompanha essa linha, criando uma música
uma música com camadas sonoras homogêneas, onde todos os instrumentos
contribuem para a construção do clima. O vocal esganiçado acompanha esse ritmo,
dando uma textura raivosa à canção, que impõe a força ao discurso contido na
parte lírica.
Com riffs
poderosos e rápidos aliados a uma construção melódica complexa, “Toxic Trace” é
uma canção crítica aos interesses econômicos em detrimento do bem-estar da
humanidade como um todo. Mas felizmente muito se avançou nas questões do
tratamento da poluição industrial desde 1987, embora muito ainda há por
fazermos.
Referencias:
CHRISTIE,
Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.
HOBSBAWN,
Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das
Letras, 1995.
MONIZ
BANDEIRA, Luiz Alberto. A Reunificação da Alemanha: do ideal socialista ao
socialismo real. 3ª edição, São Paulo: Editora Unesp; 2009.
NAPOLITANO,
Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes
Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______.
História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo
Horizonte:
Editora Autêntica, 2005.
[1] Conceito
musical: trecho que faz a ligação entre dois andamentos diferentes dentro da
canção. (bridge= ponte)
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