terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Análise: Toxic Trace (Kreator)




Toxic Trace
Kreator – Album: Terribel Certainty (1987)

Pesticide in torrents, how fast it flows
Total pollution the earth can't stand much longer
Chemical industry brings new diseases
The fear of self-destruction is growing stronger
Nuclear waste in an uncontrolled deluge
Reduces the earth to an airless planet
Reformation lies far away
Now is your only chance to save it

Contamination in every place
Condemn the human race
Everything will decay
Broken down by toxic trace

New plagues have come and soon there'll be more
Apocalypse not for the first time
Suppression is alive and that's for sure
Everyone will be annihilated
Enforcement of the last eclipse
Can't ignore predictions from the past
Ignore the warnings of ancient Prophets
Every minute of your life could be your last

Contamination in every place
Condemn the human race
Everything will decay
Broken down by toxic trace

Metamorphoses of the earth to a lifeless desert
Voracity for richness, ruin of Mankind
Craving more and more, to the world's Requiem
This is the earth's last century

Now depravation from things that count,
to make an easier life for me
Total confusions for the non-believers
who ignore the writings on the wall
Times of suffering for everyone,
no-one can hide from reality
Social injustice will be no more,
without exception, devastate all

Times have changed from the past to now
The earth is mankind's subject
Perfect creation stands over all
Experimenting with lethal objects
Domination, submission, demand for more
De-humanizes the brains of the rulers
What gives them the right to menace us all
This time will come but then it will be too late

Rastro Tóxico (tradução)

Pesticida em correntes, como flui rápido
Poluição total, a Terra não suporta por muito mais tempo
A indústria química traz novas doenças
O medo de autodestruição está se tornando mais forte
Lixo nuclear numa avalanche incontrolável
Reduz a Terra a um planeta sem ar
A reforma se mantém distante
Agora é a nossa única chance para salvá-la

Contaminação em todo lugar
Condena a raça humana
Tudo irá decair
Desmoronado pelo rastro tóxico

Novas pragas vieram e logo haverá mais
Apocalipse não é pela primeira vez
Supressão está viva e isto é certo
Todos serão aniquilados
Imposição do último eclipse
Não se pode ignorar as predições do passado
Ignorar os avisos de profetas anciãos
Cada minuto de sua vida pode ser o seu último

Contaminação em todo lugar
Condena a raça humana
Tudo irá decair
Desmoronado pelo rastro tóxico

Metamorfose da Terra em um deserto sem vida
Voracidade por riqueza, ruína da humanidade
Desejando mais e mais, até o Réquiem do mundo
Este é o último século da Terra

Agora, a privação das coisas que proporcionam
uma vida fácil para mim
Confusão total para os que não acreditam
E que ignoram as escritas na parede
Tempos de sofrimento para todos
Ninguém pode se esconder da realidade
Injustiça social não mais existirá
Sem exceção, devasta a todos

Os tempos mudaram do passado para agora
A Terra é assunto da humanidade
A criação perfeita se mantém acima de todos
Experimentos com objetos letais
Dominação, submissão, demanda por mais
Desumaniza o cérebro dos governantes
O que os dá o direito de ameaçar a todos nós?
Esse tempo virá mas aí será tarde demais
________________________________________
Análise:

Dos anos 80 para os anos 90 do século XX aumentou enormemente a distância entre ricos e pobres, e a exploração desenfreada dos recursos naturais começou a chamar a atenção de todos para um futuro apocalíptico.

As preocupações com o meio ambiente são marcantes na discografia do Kreator, pois vivendo na cidade industrial Essen (decadente e suja, num dos maiores pólos industriais da Alemanha), suas letras abordam o que se enxerga através da janela das casas. Além do fato de seu país ter arcado com um grande custo para restaurar o meio ambiente devastado da RDA após a reunificação (MONIZ BANDEIRA, 2009. p 190).

“Toxic Trace”, do álbum “Terrible Certainty”, é um grito para que as pessoas prestem atenção na degradação do meio ambiente, principalmente pelas grandes fábricas.

Nas primeiras linhas o mote geral da canção já fica bem claro: "Pesticide in torrents, how fast it flows / Total pollution the earth can't stand much longer". O problema dos dejetos industriais e residenciais tornam-se um grande martírio para as populações dos grandes centros urbanos, e a destruição dos recursos naturais, como os rios de água potável, entram na pauta de discussões acadêmicas, políticas e cotidianas.

A canção segue “The fear of self-destruction is growing stronger / Nuclear waste in an uncontrolled deluge / Reduces the earth to an airless planet”, onde há citação à devastação nuclear e à autodestruição da humanidade como conseqüências drásticas do modo de produção industrial a que estamos submetidos. Haja vista que ainda no fim dos anos 80 do século XX a energia nuclear era utilizada amplamente em vários países do mundo, mas tinha o problema dos resíduos tóxicos que não recebiam o destino correto. (o Kreator voltará a esse tema com mais ênfase no álbum posterior)

Mantidas as taxas de crescimento econômico/industrial que impulsionaram o mundo após a Segunda Guerra Mundial, o planeta não suportaria as conseqüências catastróficas ao meio ambientes que tal “crescimento” iria impor. (HOBSBAWN, 1995, p.547). E sob essa ótica o Kreator conduz o refrão da música: “Contamination in every place / Condemn the human race / Everything will decay / Broken down by toxic trace”.

A questão do “rastro tóxico” é muito emblemática, pois é uma figura de linguagem que nos remete às grandes chaminés expelindo aquela fumaça negra. Ou talvez, dejetos jorrando através de um cano diretamente dentro de um rio. São imagens rapidamente associadas à fase do Capitalismo Industrial, e tornaram-se a imagem da degradação da natureza. O Vale do Ruhr, onde está a cidade de Essen, é um desses distritos “clássicos” do Capitalismo Industrial, com suas indústrias de carvão e aço, e a fuligem compõe a paisagem local.

A partir da segunda estrofe a letra assume mais um componente: a ideia de que o que houve no passado voltará a acontecer. “New plagues have come and soon there'll be more / Apocalypse not for the first time”, mostram uma visão de história cíclica (típica de civilizações politeístas, como Romanos, Maias, Astecas, Hindus, Xavantes, etc).

Existe uma correlação entre a degradação da natureza e a incapacidade do homem aprender com os erros de civilizações passadas, descritas no trecho “Enforcement of the last eclipse / Can't ignore predictions from the past / Ignore the warnings of ancient Prophets / Every minute of your life could be your last”. Sem citar literalmente nenhum povo em especial, aborda uma teoria que pode explicar, por exemplo, o declínio de civilizações como os Rapanui (na Ilha de Páscoa, no Chile) ou dos próprios Maias, que esgotaram seus recursos naturais e tornaram-se vítimas do seu próprio modo de vida. Uma outra leitura possível se baseia exatamente na ideia de “ciclos”, onde essas antigas civilizações faziam previsões de apocalipses antes de recomeçar um novo ciclo.

Quando na canção diz que não se pode ignorar as previsões feitas no passado, não há como não fazer uma analogia às “profecias” maias sobre o fim do mundo, com catástrofes climáticas que devastarão a humanidade. Mas entra um elemento mais humano do que sobrenatural, onde o Kreator trata que o próprio homem tem causado esses desastres quando degrada o seu meio natural.
O bridge[1] cristaliza o conceito nos versos do “Metamorphoses of the earth to a lifeless desert / Voracity for richness, ruin of Mankind”, falando que a sanha dos homens por obter mais lucro não leva em consideração a sua própria preservação.

O andamento da música muda, e o eu poético já fala de um mundo devastado, onde a tecnologia não existe mais, nem as coisas que a produção industrial cria para dar conforto para a sociedade: “Now depravation from things that count,to make an easier life for me.”

A estrofe segue falando sobre as pessoas que não acreditavam que seria possível a destruição do estilo de vida industrial: “Total confusions for the non-believers / who ignore the writings on the wall”. Essa passagem, particularmente, tem um sentido mais espiritual, mas se observarmos mais atentamente, podemos entender os descrentes são os entusiastas do progresso a qualquer custo, e as escritas nas paredes podem ser as pichações que se multiplicam pelo mundo pelos movimentos ambientalistas.

O colapso da humanidade vai terminar com as lutas entre as classes, pois todos vão perecer. Essa visão de destruição total de todos os seres humanos é uma das marcas do Kreator, e está presente na canção nos versos “Social injustice will be no more, without exception, devastate all

A última estrofe fecha a canção de maneira intensa, crítica e tremendamente raivosa. Fala sobre “experimentos com objetos letais” e provavelmente estão falando sobre energia nuclear e combustíveis fosseis, onde a “demanda por mais” força os humanos a se destruírem. E como não poderia faltar, há uma crítica contundente aos governos, que não pensam em nada além dos lucros e dos interesses das grandes corporações, sem pensar na preservação da humanidade e dos recursos naturais.

A música está dividida em três partes bem distintas, sob o ponto de vista melódico. A introdução é cadenciada, ditado sob o ritmo do riff marcante das guitarras. Há a quebra com uma pausa curta, e inicia a segunda parte com um ritmo muito mais acelerado, com o início da parte cantada, voltando para a cadência da introdução no momento do bridge (2:02” até 3”) quando há uma nova quebra na melodia para cantar a 3 estrofe (3” até 3:59”) voltando a música retornando à segunda parte melódica e finalizando novamente com a melodia da terceira parte.

As guitarras são a alma da canção, conduzindo as ações dentro da melodia, cadenciando e acelerando. A bateria acompanha essa linha, criando uma música uma música com camadas sonoras homogêneas, onde todos os instrumentos contribuem para a construção do clima. O vocal esganiçado acompanha esse ritmo, dando uma textura raivosa à canção, que impõe a força ao discurso contido na parte lírica.

Com riffs poderosos e rápidos aliados a uma construção melódica complexa, “Toxic Trace” é uma canção crítica aos interesses econômicos em detrimento do bem-estar da humanidade como um todo. Mas felizmente muito se avançou nas questões do tratamento da poluição industrial desde 1987, embora muito ainda há por fazermos.

Referencias:

CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995.

MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. A Reunificação da Alemanha: do ideal socialista ao socialismo real. 3ª edição, São Paulo: Editora Unesp; 2009.

NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2005.


[1] Conceito musical: trecho que faz a ligação entre dois andamentos diferentes dentro da canção. (bridge= ponte)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Análise: Arise (Sepultura)




Arise
Sepultura – Album: Arise (1991)


Obscured by the Sun
Apocalyptic Clash
Cities fall in ruin
Why must we die?

Obliteration of mankind
Under a pale grey Sky
We shall arise

I did nothing, saw nothing
Terrorist confrontation
Waiting for the end
Wartime conspiracy

I see the world, old
I see the world, dead

Victims of war, seeking some salvation
Last wish, fatality
I've no land, I'm from nowhere
Ashes to ashes, dust to dust


Face the enemy
Manic thoughts
Religious intervention
Problems remain

 
Surgir

Obscurecido pelo Sol
Estrondo apocalíptico
Cidades virando ruínas
Por que temos que morrer?

 
Obliteração da raça humana
Debaixo de um céu cinzento
Nos vamos surgir


Eu não fiz nada, não vi nada
Confronto entre terroristas
Esperando pelo final
Tempos de guerra, conspiração

Eu vejo o mundo velho
Eu vejo o mundo morto


Vitimas da guerra, buscando uma salvação
Último desejo, fatalidade
Eu não tenho terra, eu sou de lugar nenhum
Das cinzas as cinzas, do pó ao pó


Encare o inimigo
Pensamentos maníacos
Intervenção religiosa
Problemas continuam
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Análise

Como dito anteriormente, o Sepultura escreve sobre o tema “Guerra Religiosa” em duas canções entre o fim dos anos 80 e início dos 90. Já comentamos sobre “Mass Hypnosis”  e agora falaremos de “Arise”, faixa do disco homônimo de 1991, que elevou a banda a um patamar de excelência nunca antes alcançado por uma banda brasileira no cenário da música (para muito além do gênero Rock/Metal) mundial. (JANOTTI JR, 2004, p.42).

Max Cavalera, vocalista e principal letrista da banda na época, definiu o mote geral da canção da seguinte maneira em entrevista à revista holandesa Aardschok / Metal Hammer em Abril de 1991:
A letra de 'Arise' são realmente up-to-date, porque é sobre como as pessoas estão prontas para matar outras pessoas só porque eles acreditam em um tipo diferente de Deus. acho que a minha voz soa especialmente agressiva nessa música, muito como em nossos álbuns mais antigos. (fonte: site Song Facts, 2008)
A definição realmente não poderia ser mais apropriada.

A primeira linha leva o ouvinte a experimentar um sentimento de confusão, através do uso da antítese contida em “Obscured by the Sun”, e a imagem mais próxima que podemos fazer está nos desertos do oriente médio, onde o sol reflete tão fortemente na areia que queima os olhos e obscurece a visão. Este início cria o cenário onde se desenvolverá a narração.

A música segue, descrevendo uma terra arrasada em “Cities fall in ruin / Why must we die?”, e também oferece ao ouvinte o relato de pessoas que estão no meio do conflito, e provalmente, estão tentando fugir.
O refrão, entretanto, busca a esperança e racionalidade em meio ao desespero da guerra: “Obliteration of mankind / Under a pale grey sky / We shall arise”. O uso de uma palavra incomum “obliteração”, está ligada, não só ao ritmo que as sílabas provome à parte melódica, mas também à uma ideia que é uma operação de pensada para cegar a a humanidade por dogmas.

A estrofe “I did nothing, saw nothing / Terrorist confrontation / Waiting for the end / Wartime conspiracy” traz mais clara a imagem do eu poético, que fala que não fez nada, não disse nada, mas está em meio ao confronto de terroristas e suas ideologias. E exemplifica muito bem o que as pessoas viam nos noticiários da época, e de como o medo dos ataques terroristas substituem o medo da Guerra Nuclear na mente do homem comum, após o fracasso do Comunismo e Capitalismo a todo custo. (HOBSBAWN, 1995, p.538-542)

Como uma das características mais marcantes das melodias do Sepultura nesse período, nós temos um bridge onde há uma quebra brutal no andamento da música, e há um destaque para a vocalização das palavras, com entonação destacada para a última em cada frase: "I see the world, old / "I see the world, dead". Esse recurso aumenta a dramaticidade do tema, e coloca o ouvinte em contato direto com a psique do eu poético, e seu desespero diante do mundo tomado pelo conflito.

A questão do problema dos refugiados da guerra religiosa se cristaliza em “Victims of war, seeking some salvation / last wish, fatality / I've no land, I'm from nowhere /Ashes to ashes, dust to dust”, escancarado quando diz “não tenho terra, sou de lugar nenhum”, e logo podemos fazer qualquer paralelo de conflitos que se multiplicaram principalmente entre islâmicos radicais, judeus e minorias (como os curdos) nas mais diversas partes do mundo. E o final da estrofe trás uma referência religiosa, mostrando ainda a crença do eu poético, pois vê de ele não é nada, pois do pó veio e ao pó retornará.

A canção termina com os versos “Face the enemy /Manic thoughts /Religious intervention /Problems remain”, em que se percebe que a questão religiosa tem aflorado uma série de conflitos que não se resolvem, principalmente no dito “Terceiro Mundo”, onde a violência e a intolerância explodem de maneira extrema, que foram ocultadas pela imposição da força das potências durante o período da Guerra Fria (HOBSBAWN, 1995, p. 421-446). A frase “problemas continuam” é a conclusão perfeita

A música tem sua introdução, com um barulho estranho e tambores, que passam a sensação de alucinações. As guitarras,a bateria e o baixo entram todos numa avalanche sonora, num ritmo frenético, com a predominância dos riffs rápidos e secos junto com o som das batidas rápidas da caixa da bateria. A vocalização gutural arremata o clima raivoso da música. Há uma rápida quebra no andamento para o bridge, mas a música retorna ao seu andamento até o final. 


Como nota importante, a ideia reforçada pelo vídeo clipe da canção, que mostra um Jesus crucificado usando uma máscara contra ataques de bombas de gás.

Para finalizar esta análise, o última frase da canção resume, define e projeta uma situação acerca das guerras religiosas: os problemas contiuam. 



Referências:

ARIÓSTEGUI, Júlio. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru(SP): Edusc,2006.

CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx,2010.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995
JANOTTI JÚNIOR, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004

NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2005.


<http://www.songfacts.com/detail.php?id=20008> acessado em 16/07/2011

domingo, 20 de outubro de 2013

Análise: Mass Hypnosis (Sepultura)



Mass Hypnosis
Sepultura – Álbum: Beneath the Remains (1989)

Looking inside, your future uncertain
The fear grows as a sickness uncured
The silence agonizes, the words sound strong
Look inside the eyes, leave this world

Hate throught the arteries
Mass hypnosis

Uncertain of being back
Theyu make you feel so good
Everything's darkened
Obey like a fool

Hate throught the arteries
Mass hypnosis

Soldiers going nowhere
Believers kneeling over their sins
Inhuman instinct of cowardly leaders
Make the world go their own way
Tens of thousands hypnotized
Trying to find a reason why
Look inside your empty eyes
Obey 'till the end

Looking inside, your future uncertain
The fear grows as a sickness uncured
The silence agonizes, the words sound strong
Look inside the eyes, leave this world

Hate throught the arteries
Mass hypnosis
Soldiers going nowhere
Soldiers blinded by their faith

Hipnose em Massa

Olhando por dentro, seu futuro incerto
O medo cresce como uma doença incurável
O silêncio agoniza, a palavra soa forte
Olhe dentro dos olhos, deixe este mundo

O ódio corre pelas artérias
Hipnose em massa

Incerto em estar de volta
Eles te fazem se sentir tão bem
Tudo está obscurecido
Obedeça como um tolo

O ódio corre pelas artérias
Hipnose em massa

Soldados indo a lugar algum
Fiéis que se ajoelham sobre os seus pecados
O instinto cruel de líderes covardes
Faz o mundo andar á maneira deles
Dez mil hipnotizados
Tentando achar uma razão, o por quê
Olhe dentro de seus olhos vazios
Obedeça até o fim

Olhando por dentro, seu futuro incerto
O medo cresce como uma doença incurável
O silêncio agoniza, as palavras soam fortes
Olhe dentro dos olhos, deixe este mundo

O ódio corre pelas artérias
Hipnose em massa
Soldados indo a lugar algum
Soldados cegos por suas crenças
_________________________________________

Análise:

A abordagem dos brasileiros do Sepultura acerca do tema “Terrorismo”  está relacionada, principalmente, ao fundamentalismo religioso que permeia as guerras do Oriente Médio, mas não exclusivamente a elas. O titulo da canção, Hipnose em Massa, por si só diz sobre aquilo que a canção quer dizer: a religião que controla os povos cegamente.

A letra traz sentimentos como o medo e o ódio dialogando intimamente, o que nos remete à situação dos chamados “Homens Bombas”.  Logo na primeira estrofe, o trecho "The silence agonizes, the words sound strong / look inside the eyes, leave this world" explicita isso ao ouvinte, dizendo o quanto os líderes teocráticos (e aqui podemos tomar com exemplo mais óbvio os radicais islâmicos) incentivam aos seus comandados que cometam o sacrifício supremo em nome da causa religiosa. Uma morte gloriosa para uma recompensa no Céu, é a mensagem em “deixe este mundo”

A segunda estrofe continua, mas agora em tom mais crítico, de alguém que analisa a situação de fora: "Uncertain of being back / They make you feel so good /everything's darkened obey like a fool". A situação é muito clara, quando o eu poético diz que não há certeza no regresso dessas pessoas, quando elas saem para essas missões. Muitas vezes, eles não sabem que terão que se sacrificar, mas são treinados para isso, sendo obrigados a faze-lo no momento oportuno. E para muitos, isso é desejado, pois os líderes lhes falam de recompensas no outro mundo, e que morrerão como mártires da causa. Na visão externa (como é o eu poético representado na canção) “são tolos” que estão condicionados a obedecer cegamente.

O refrão traz a essência da mensagem quando diz "Hate throught the arteries / mass hypnosis", pois desde crianças os combatentes são ensinados a odiar, e os ressentimentos são usados como arma ideológica dos líderes teocráticos. E o restante do refrão nos confere novamente a visão dos homens bombas: "soldiers going nowhere /believers kneeling over their sins".

Como forma de enfatizar a crítica aos conflitos religiosos, a terceira estrofe é, sem dúvida, a mais contundente, porque primeiro fala de “líderes covardes” , que nunca estão na linha de frente dos conflitos, fazendo que os outros se matem por aquilo que eles querem.  O trecho "Tens of thousands hypnotized trying to find a reason why look inside your empty eyes obey 'till the end" fala abertamente sobre exércitos que são movidos para uma guerra sem sentido pessoal, onde os soldados estão munidos de ideologias que lhes foram impostas, e as quais devem seguir cegamente até o fim.

O fundamentalismo islâmico foi a resposta aos anos de dominação a que foram submetidos pelas potências ocidentais durante a Guerra Fria, e o mundo que nasce desses escombros é mais conflituoso do que belicoso. (HOBSBAWN, 1995, p. 540-541).

Em sua estrutura melódica, Mass Hypnosis segue linhas bem definidas do que o Sepultura apresentou no álbum “Beneath the Remains”. Guitarras rápidas e sujas, bateria cadenciada permeada de bumbo duplo, muitas mudanças de andamento e um grande destaque às linhas de solo de Andreas Kisser, para depois voltar ao peso e rapidez costurados com a linha vocal super agressiva de Max Cavalera.  Tudo isso dá uma construção perfeita para a letra, aumentando a tensão nas palavras do jogo de medo e ódio sugerido nela.

O assunto das guerras religiosas é tão rico para o Thrash Metal, que são infindáveis as bandas que falam sobre isso. O próprio Sepultura voltará ao assunto em 1991 em Arise, mas isso fica para a próxima.

Referências:

ARIÓSTEGUI, Júlio. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru(SP): Edusc, 2006.

CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx,2010.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995

JANOTTI JÚNIOR, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004

NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2005.